Modelo de aquisição baseado
em consumo

Ter ou não ter, eis a questão

Nos últimos anos e mais intensamente nos últimos meses vivemos bombardeados pelo termo “Modelo de aquisição baseado em consumo”. A imensa maioria das pessoas diretamente envolvidas na aquisição e gestão de infraestrutura de TI sabe explicar na ponta da língua o que o termo significa, mas qual a realidade por trás disso e porque é tão difícil justificar este tipo de aquisição? Sim, o discurso dos “consumidores” é muito alinhado ao conceito deste tipo de entrega, mas a prática mostra que a adoção deste modelo ainda enfrenta muitas barreiras. Vamos voltar um passo e entender os principais motivadores por trás da criação deste modelo.

Sem querer chover no molhado é inevitável lembrar que o modelo de “Cloud Computing” trouxe uma revolução, nem tanto técnica, mas sim comercial, permitindo pagar pelo uso efetivo dos recursos, contratando e cancelando sob demanda, na exata medida do necessário. Por outro lado, a distância geográfica, aplicações defasadas, regulamentações e preocupações com segurança fizeram com que o modelo não sofresse uma explosão de consumo e ainda são fatores limitantes para uma série de realidades. Sem contar ainda o modelo de Software como Serviço, onde temos a muito tempo disponibilidade de ferramentas de colaborações, CRM, ERP e vários outros que a imaginação nos permite, concordamos que o modelo não é novidade. Por esta ótica, fabricantes de Servidores e Storages construíram modelos de contrato com elementos “pay-per-use” para fornecimento de infraestrutura On-Premises, com o objetivo de habilitar gestão de custos e elasticidade “cloud-like”, superando os fatores limitantes que discutimos um pouco antes. Então novamente, por que ainda é tão difícil justificar este tipo de contratação?

Neste texto vamos compartilhar alguns aprendizados tirados do documento How to Use Consumption-Based Procurement Models for On-Premises Infrastructure, publicado pelo Gartner em Setembro de 2019, que recomendamos a leitura completa. O Gartner também reconhece vários desafios nesta iniciativa e recomendação principal é que os gestores de TI precisam olhar muito além do valor mensal de uma contratação como esta..  Estes contratos precisam ser avaliados como uma forma de ganhar agilidade operacional. Ainda segundo o Gartner, muitos líderes de TI são levados a acreditar erroneamente que contratos baseados em consumo lhes permitem adquirir o mesmo Hardware a um custo mais baixo do que uma compra tradicional.

Outro desafio apontado é a dificuldade na comparação do modelo de consumo com a compra tradicional, principalmente pela incerteza da utilização futura e por conta dos serviços agregados junto ao modelo de consumo. Neste ponto nos deparamos com os maiores enganos na análise deste tipo de contratação. O primeiro deles é o desejo de aluguel de Hardware. Para este objetivo existe um produto financeiro bem consolidado no mercado, mais conhecido como Leasing Operacional. O modelo de consumo, assim como “Cloud Computing” trata-se da contratação de um SLA (Service Level Agreement), que envolve camadas de Hardware, Software e Serviços com o objetivo de entregar a disponibilidade, desempenho e o que mais for acordado em contrato, trazendo a responsabilidade disso ao fornecedor. Quando contratamos energia elétrica de nossas concessionárias, pouco nos importa de onde vem esta energia, qual marca de fio ou transformador está sendo usada ou quem fabricou os postes. O que queremos é energia elétrica disponível quando precisarmos, em troca de um pagamento recorrente, conforme o uso.

Ainda tomando como base estudos do Gartner, muitos compradores erroneamente acreditam que o modelo baseado no consumo trará hardware a custos mais baixos e desta forma, transferem todo o risco da subutilização para o fornecedor. Este modelo deve ser entendido como uma maneira de permitir agilidade, não hardware mais barato. 

Para que este modelo funcione as responsabilidades precisam ser compreendidas. O cliente definirá sua necessidade do ponto de vista de capacidade, disponibilidade, segurança e crescimento enquanto o fornecedor definirá a melhor arquitetura, será responsável por sua instalação e gestão, assim como atualização tecnológica necessária. Desta forma o cliente terá a sua disposição um conjunto de recursos e especialistas para manter seu foco no negócio. Somente com esta perspectiva o modelo de consumo será diferencial competitivo.

Vejamos abaixo a materialização da contratação neste modelo:

Não contrate o modelo baseado em consumo tentando adquirir Hardware por menos. Ao invés disso, use contratos baseados em consumo que alinhem custos de infraestrutura com o uso, levando seu modelo operacional em direção a orientação por serviços. Esta é a melhor forma de ganhar agilidade se comparado ao modelo tradicional. Se o objetivo é apenas instalar um hardware específico, o modelo de consumo quase sempre será mais caro.

A recomendação é que TI e Financeiro analisem em conjunto o TCO da solução para 5 anos. É necessário levar em conta os pagamentos variáveis, crescimento e utilização. A construção de cenários também é extremamente recomendável segundo o Gartner. Por exemplo, modele cenários sem crescimento, com crescimento moderado e elevado crescimento, calculando o TCO esperado para os três. Considere também os riscos de crescimento negativo ou até mesmo mudanças drásticas no negócio, que podem eliminar a necessidade dos equipamentos. Por ser um modelo alternativo de aquisição, nem a área de TI, nem Compras ou o Fornecedor podem avaliar sozinhos. E nem pense em fazer esta avaliação sem envolver a área financeira. Projetos em que esta decisão é tomada em conjunto tem histórico de sucesso muito elevado.

Partindo para a parte final desta conversa gostaria de compartilhar uma tabela com algumas dicas do que fazer e não fazer na avaliação desta modalidade de consumo. Mantive no idioma original para não descaracterizar o entendimento:

Do Don´t
Get a quote for an outright purchase of the hardware Compare prices directly with a purchase or with public cloud IaaS, without accounting for service differences
Minimize the initial deployed capacity Try to get 100% accurate with your forecasts
Include contract terms to allow for data center migrations Use vendor-provided BAU or estimated usage, without reviewing its assumptions
Include options at the term end to renew and/or buy out the equipment at prenegotiated pricing Evaluate a price unless it is accompanied by a complete list of all equipment and services to be included
Include priced consumption scenarios as a contract addendum to ensure no surprises Assume software licenses are also paid on a consumption basis
Evaluate the vendor’s service and support track record with references similar in location and scale Deploy equipment without determining if you must insure it against damage or loss
Specify when and how quickly the vendor should replenish buffer capacity Assume that capacity increases and decreases will yield equal changes in costs

Fonte: Gartner (Setembro 2019)

Um dos exemplos mais maduros deste modelo de consumo é fornecido pela HPE sob a marca HPE GreenLake. Trata-se de uma oferta de TI como serviço, que traz a experiência da nuvem para aplicativos e dados em qualquer lugar – data centers, multiclouds e borda – com um modelo operacional unificado. A HPE vem evoluindo seu modelo a vários anos, sendo hoje no mercado a oferta pioneira e mais abrangente. Por ter um amplo portfólio de produtos e serviços, o HPE GreenLake aproveita toda a experiência da HPE, tanto tecnológica quanto de negócios. Por ter uma base instalada considerável a capacidade de analisar a viabilidade abrange desde os aspectos técnicos até os financeiros, entregando Hardware, Software, Serviços, Gestão e Governança.

Quer saber mais sobre o tema ou sobre como implantar uma infraestrutura de TI on premises baseada em consumo na sua empresa? Entre em contato com o nosso time!

*Rafael Cardoso é Arquiteto de Soluções e lidera os negócios de Service Provider na Sercompe.